Oncogeriatria Feminina: Individualização no Tratamento de Mulheres Idosas
As pessoas estão vivendo mais. Em 1965, a expectativa de vida global era de pouco mais de 55 anos. Hoje, ela ultrapassa os 71 anos. Com isso, o número de pessoas com 65 anos ou mais já chega a 600 milhões no mundo — cerca de 8,5% da população. E esse número só tende a crescer: até 2030, espera-se que haja quase 1 bilhão de pessoas acima dos 65 anos.
Esse aumento da longevidade é uma conquista, mas também traz novos desafios. Um dos mais importantes é o câncer: estima-se que, até 2035, ocorrerão 13,7 milhões de novos casos anuais de câncer em pessoas com mais de 65 anos.
Portanto, cresce o número de mulheres idosas diagnosticadas com câncer ginecológico (especialmente de útero e ovário) e câncer de mama. E essas pacientes exigem um olhar mais cuidadoso: muitas convivem com doenças crônicas (como diabetes ou problemas cardíacos), têm maior risco de efeitos colaterais com quimioterapia, ou não toleram bem cirurgias extensas. Ao mesmo tempo, devemos ter cuidado para não oferecer tratamentos menos efetivos ao considerar apenas a idade. Hoje, já se sabe que a idade sozinha não define a capacidade de uma mulher enfrentar o tratamento. O que importa, de fato, é sua saúde funcional: força física, cognição, nutrição, suporte social e presença de outras doenças. Para isso, os médicos utilizam uma abordagem chamada avaliação geriátrica ampla, que permite adaptar o plano terapêutico a cada paciente de forma individualizada.
Em vez de aplicar o mesmo tratamento para todas, a oncologia tem priorizado estratégias eficazes, mas com menos chance de toxicidade nessa faixa etária, como:
- Uso de terapias hormonais em tumores sensíveis a hormônios (comuns após a menopausa)
- Redução ou retirada da radioterapia em casos iniciais e favoráveis
- Evitar cirurgias invasivas em pacientes muito frágeis, optando por medicamentos
- Escolha de medicamentos com menos toxicidade, como terapias-alvo e imunoterapias
Tudo isso tem como objetivo manter a eficácia do tratamento com menos chance de intercorrências clínicas.
Outro avanço essencial nesse contexto é a integração precoce dos cuidados paliativos, que atuam em conjunto com o tratamento oncológico com o objetivo de promover o bem-estar integral da paciente. Longe de significar fim de tratamento, os cuidados paliativos são aliados da equipe médica, ajudando a controlar sintomas como dor, fadiga, falta de ar, insônia e ansiedade. Além disso, oferecem suporte emocional, social e espiritual tanto para a paciente quanto para sua família, facilitando a tomada de decisões e garantindo que os cuidados prestados estejam sempre alinhados com os valores, desejos e prioridades da mulher — promovendo autonomia, conforto e dignidade em todas as fases da doença.
Um dos pilares da oncologia contemporânea — especialmente na atenção a pacientes idosas — é que mais do que tratar o câncer, é fundamental cuidar da pessoa como um todo. Isso significa considerar não apenas o diagnóstico da doença, mas também escutar os desejos da paciente, respeitar seus valores e construir, junto com sua família e a equipe de saúde, um plano de cuidado individualizado e significativo.
Nesse contexto, a avaliação geriátrica ampla ocupa um papel central. Precisamos compreender melhor o estado funcional, emocional, cognitivo, nutricional e social da paciente, indo além da idade cronológica. Com essas informações, é possível planejar um tratamento que seja realmente adequado à realidade e às prioridades de cada mulher. Para algumas, isso pode significar seguir com terapias mais intensivas. Para outras, pode ser mais apropriada uma abordagem conservadora, voltada para o controle dos sintomas e a manutenção da autonomia e qualidade de vida. O mais importante é que as decisões sejam tomadas de forma compartilhada, com empatia, responsabilidade e pleno respeito à individualidade de cada paciente.